Sobre a megaoperação policial que deixou mais cem mortos no Rio de Janeiro…
É de bom tom evitar politizar essa operação. Por não viver e crescer em uma favela dominada pelo crime não me sinto apto a fazer julgamentos políticos. Porém, quero trazer uma visão panorâmica. Quem vive no complexo Alemão e da Penha, onde foi realizada essa megaoperação, vive no vale da sombra da morte; e quem vive no vale da sombra da morte,morre um pouco a cada dia. Quem morre?
Morre o jovem e adolescente sem oportunidade e refém do crime. Morre a mãe que chora seus filhos perdidos na droga e no tráfico, morre a mãe e o pai pelo tiro letal que ceifou seu filho(a). Morre quem mata em nome do Estado, morre a humanidade. Estou falando não só da morte literal, mas também dessa morte que mata lentamente um pouco a cada dia, tirando destes moradores não só a vida, mas a impossibilidade de viver. Morre o convívio social. A cena de mortos enfileirados no chão é chocante; tanto quanto chocante é quem vibra com esse caos. Se vibrou, é porque parte de nós também morreu. É uma morte coletiva. Morre o comerciante que tem que pagar taxas para as milícias e traficantes, tirando o pão da mesa de seus filhos. Morre a educação, pois as escolas são forçadas a fechar. Morre a esperança do pai que não sabe se seu filho vai ser uma pessoa de bem mediante as ofertas da maldade do tráfico rotulada de oportunidade. Morre a honestidade, morre a oportunidade de emprego que o Estado deveria gerar, mas está instalado um estado do crime dentro do Estado. Morre o amor, morre a alegria…
Quem vive nesses lugares morre um pouco a cada dia, pois vive no vale da sombra da morte .
FernandoRomero